Ser ou Não Ser, Verdade (a dois).

Para dar é preciso ter, pelo que só nos podemos dar ao outro em equilíbrio quando não temos espaços vazios em nós.

Avizinha-se uma data que passou a ser muito badalada, seja culturalmente seja comercialmente – o tão aclamado dia dos namorados. Mas, em verdade, porque nos preocupamos tanto em agradar o outro?

Se é verdade que somos seres sociais, e que poderemos eventualmente ter vidas mais completas com alguém ao nosso lado, é também igualmente verdade que sem termos primeiro uma relação harmoniosa connosco mesmos a interação com o outro ficará comprometida.

Se não nos encontramos bem numa relação, ou se nos esforçamos demais para estarmos bem numa relação, pode muito bem ser porque não nos nutrimos inteiramente, enquanto seres individuais. Toda relação com o outro trará este espelho.

Todos nós precisamos ser nutridos, seja por comida ou amor. No entanto, todos esquecemos que a primeira fonte de nutrição cabe a nós desenvolver. Quando damos ao outro na expectativa de receber de volta, significa que existe um vazio que procuramos preencher e, consequentemente, estamos a (pensar) dar algo que (em verdade) não temos. Isto desencadeia um movimento celular muito inconsciente chamado de egoísmo, que apenas vai gerar sofrimento e conflito.

Só podemos dar o que temos, mas, em verdade, só conseguimos mesmo dar o que sobra.

Precisamos aprender a ser altruístas na relação que temos connosco. Dar a nós mesmos em primeiro lugar para que o outro seja um complemento e não uma carência. Dar aos outros simplesmente pelo simples prazer de dar ativa correntes profundas saudáveis no nosso organismo.

Essencialmente, este altruísmo suporta o empoderamento individual através do processo duma ligação profunda com o outro. Atos egoístas causam ‘desenvolução’ enquanto atos altruístas causam evolução.

Fica a reflexão:

  • Onde será que nos doamos agarrados a alguma expectativa?
  • Onde será que nos sacrificamos de formas não saudáveis?
  • Como podemos cuidar melhor de nós para que nos possamos dar inteiros?

Seres individuais Verdadeiros criam Relações verdadeiras. Que saibamos ter amor-próprio pela nossa singularidade, pelo bem maior de todas as nossas relações. Um Somos Todos, na Verdade de Ser.

Fiz de mim o que não soube 
E o que podia fazer de mim não o fiz. 
O dominó que vesti era errado. 
Conheceram-me logo por quem não era 
E não desmenti, e perdi-me. 
Quando quis tirar a máscara, 
Estava pregada à cara. 
Quando a tirei e me vi ao espelho, 
Já tinha envelhecido. 

Fernando Pessoa, in Tabacaria

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