Somos livres de escolher mas não somos livres das consequências das nossas escolhas. Será por isso que nos inibimos de escolher efetivamente? Não escolher, seja por medo seja por nos deixarmos levar pelo acaso, na aparente esperança que alguém resolva os nossos dilemas, é também uma escolha.
Quando aceitamos a impermanência e o fluxo natural da vida, sem nos descurarmos da responsabilidade do papel que nos cabe, optamos naturalmente por fazer escolhas conscientes alcançando assim um estado totalmente sereno e em harmonia com as respetivas consequências, sejam elas quais forem.
Nesta fase da minha vida em que me encontro numa (r)evolução interna com maiores limitações para manifestar o meu trabalho, tem sido incrível ouvir partilhas da continuidade dos processos dos meus clientes que, mesmo não me tendo duma forma tão ativa, se encontram num mergulho das (boas) consequências do trabalho interno que têm vindo a desbravar: as dores de crescimento conscientes geram lágrimas de alegria. Os trabalhos de reconstrução dentro e fora de nós cultivam a frequência do caminho que trilhamos.
Nos dias de hoje onde muito se ouve e muito se diz, vejo muito pouca clareza na forma de comunicar. É urgente aprender a falar menos e a ouvir mais. Aprender a observar em vez de julgar. E impera a reflexão:
- Em que medida o medo de sermos controlados pode estar a governar a nossa vida ou a influenciar as decisões que tomamos?
- Teremos assim tanto medo de usar o nosso próprio ‘poder pessoal’ que nem sequer o vemos em nós?
Clarice Lispector escreveu num dos seus livros que “liberdade é pouco, o que desejo ainda não tem nome“. No entanto, arrisco-me a dizer que a verdadeira liberdade é um estado de espírito que se manifesta quando nos ouvimos (e respeitamos) internamente, e isso em verdade não tem nome ainda – vai muito além do significado no nosso dicionário da palavra ‘liberdade’.
Escolhas conscientes levam a caminhos sem expectativas, e consequentemente à liberdade dum sorriso constante. E, repito, a alegria que se sente não se consegue descrever por palavras ‘normais’. A distância entre nós e o Divino é zero! Basta abrirmos a porta. As palavras são apenas um acessório para nos levar a uma introspecção maior. E com palavras do Jorge Palma me despeço por agora.
Todos nós pagamos por tudo o que usamos
O sistema é antigo e não poupa ninguém
Somos todos escravos do que precisamos
Reduz as necessidades se queres passar bemQue a dependência é uma besta
Jorge Palma, in “A gente vai continuar”
Que dá cabo do desejo
E a liberdade é uma maluca
Que sabe quanto vale um beijo