Eu acredito no caminho do meio. Acredito que quando estamos em extremos opostos, se nos colocarmos em círculo estamos efetivamente no mesmo lugar. Ao longo da minha vida, já experienciei tanto um extremo como outro, e sempre retorno ao meio. É bem verdade que é no meio que está a virtude, como diz o ditado popular. Este caminho do meio é individual e intransmissível – cada um precisa sentir o seu, no seu ritmo para chegar ao seu equilíbrio.
Acabo de chegar duma viagem longa, de reconexão e retiro, numa intenção simbólica de celebração da vida, neste ano que completarei 50 anos de vida. Não há razões ou motivos, apenas a intenção lançada como uma semente e esperar que a vida germine o resto e nos traga a experiência necessária. E a vida, na sua sábia paciência traz os estímulos e o corpo responde. A mente até pode querer controlar, mas há lugares para os quais o nosso corpo Terra simplesmente é chamado para ser curado nas suas camadas mais profundas.
E fui na certeza da incerteza, sem dar voz a tantas vozes cautelosas na minha cabeça. Apenas sabia que tinha que ir. Lá longe, no meio duma mata densa e persistente, fui literalmente picada imensas vezes para sair da minha zona de conforto, da minha mente, e simplesmente deixar-me embalar no colo de tudo o que sou, luz e sombra. Ainda assim pude constatar o tanto que a mente fala e quer interpretar o que vê e o que acha que quer ver/sentir. Só no 4.º dia consegui deixar-me acolher pela insistência das picadas e simplesmente largar. Foi aí que tudo aconteceu, foi aí que “percebi na pele da alma” o que me tinha chamado, e o quão subtil é o caminho do meio, quando permitimos. Quanto maior o autoconhecimento, mais inteligente a mente se torna para manobrar e dificultar o trabalho interior. Deixei-me guiar pelos elementos e pelos meus antepassados, e a magia começou o seu trabalho – não na forma, na matéria, no corpo físico, mas dentro, muito dentro, tão dentro que não consigo explicar em palavras – não se vê, apenas se sente. Sinto, logo existe.
Ao chegar aqui a casa, fui fazer a minha ronda no Jardim Xamânico e fiquei estupefacta com o que vi, com a voz e expressão das plantas. No lugar da Grande Mãe (na sauna) tinha um cenário físico que descreve exatamente toda a viagem que fiz, interna e externamente falando – o acolhimento que eu senti quando me entreguei aos elementos e aos ancestrais estava expressado cá na matéria, na minha casa. E então a percepção mais aguçada do caminho do meio – precisamos evoluir além da evolução – precisamos Simplesmente Ser, sem buscar nada. A consciência sem amor pode ser cruel, e o amor sem consciência pode gerar muito sofrimento – ambos extremos aos quais todos estamos muito habituados a (sobre)viver e a acreditar que é o normal. Precisamos dar espaço ao nosso vazio, para que nele possamos encontrar o ponto onde nos encontramos para assim nos deixarmos ir nas correntes do caminho do meio.
Antes de começarmos algo novo na nossa vida precisamo-nos perguntar “qual a verdadeira essência deste novo começo?”.
Tantas vezes não nos apercebemos que grande parte dos começos contêm traços subtis de medo. Se estes grãos de medo estiverem presentes na fonte do nosso esforço, estaremos involuntariamente a plantar as sementes da sua própria morte.
Se estamos apegados a uma opinião, identidade ou visão do mundo, é hora de largar. Se temos tentado rejeitar uma parte do nosso passado, ou da nossa vida, é hora de a acolhermos. Se nos vemos numa bolha distanciados do mundo, é hora de refletir. Ao desapegarmos do nosso intelecto podemos observar como tudo se torna mais simples e eficiente. A mente tem dificuldade em entender como tudo está sempre a passar e a recomeçar. Mas a verdade é que tudo acontece o tempo todo, para que nos tornemos mais inteiros. No final, tudo o que importa é o quanto nos permitimos expandir através do coração.
Que saibamos vislumbrar a vida com a perspectiva de que o caminho para a nossa evolução está na bagagem que vamos gerando ao longo da nossa vida. Aprendamos a desacelerar, a ter mais paciência, de forma a que, com humildade e autoconfiança, nos encontremos nas camadas mais subtis dos nossos corpos físico, emocional, mental e espiritual.
Fica a reflexão:
- Sentes-te de vez em quando dominado por alguma tristeza?
- Será que te estás a isolar do mundo, ou de novas experiências?
- Tens hábito em começar coisas e dificuldade em acabá-las?
- Será que não estás a crescer demasiado depressa, à custa do teu próprio equilíbrio?
- Se não tivesses medo de expandir, onde na tua vida o poderias fazer?
Não esqueçamos que para SERMOS TODOS UM em Equilíbrio, o UM precisa estar inteiro. Precisamos dar espaço à vida.
