Lembrar de não esquecer.

A vida é um mito que necessita ser visto no silêncio duma revelação.

Quantas vezes nos castramos com a frase “porque fui tão casmurro(a)/cego(a)/etc?”.

Tantas vezes na nossa vida ignoramos a nossa própria consciência, e tanto mais os sinais externos, que se torna até uma arrogância pensarmos que somos “vítimas do acaso”. Temos sempre em nós o ímpeto de que conseguimos dar conta das coisas, e que só mais à frente iremos dar-nos tempo para sentir e para recolher, pois há tanto para fazer no momento e/ou tanto que queremos atingir.

Porque será que temos tanta pressa? Será que não nos damos conta que não saber pausar, contemplar o momento e permitir sentir leva-nos apenas para a competição entre a vida e a morte? Será que é isso mesmo que queremos?

Para ajudar o festival mental, a vida coloca-nos acontecimentos, uns mais trágicos que outros, mas sempre assuntos que nos geram stress e ansiedade, ou até doença física. Temos assim os ingredientes todos perfeitos para sucumbirmos à nossa mente que vai racionalizar tudo, mantendo as verdadeiras causas à margem da nossa consciência. E assim vamo-nos distraindo com coisas externas que alimentam apenas a fuga de nós mesmos.

Em algum momento, a nossa mente tão trabalhadora vai sentir a exaustão, e a questão que se coloca é: será que é necessário? Será que não é mais sensato libertarmo-nos da forma fixa com que vivemos? A vida não é um assunto para ser resolvido – ela é uma jornada para ser vivida com consciência. Quanto maior for a resistência em parar/contemplar mais difícil se torna a liberdade do caminho. Li num livro uma frase que descreve nitidamente o processo do sofrimento e resistência: “os pensamentos são como isco para um peixe: se mordermos, somos apanhados“.

Tornamo-nos vítimas da nossa própria distração por termos medo de parar e observar. O ato de pausar não é desprovido de ação. Pelo contrário, exige uma grande dose de resiliência e confiança na vida para aceitar que é necessário parar para nos nutrirmos convenientemente, de forma a continuar de forma leve e saudável. E que, se não paramos pontualmente para nos contemplarmos, e particularmente nas nossas emoções, qualquer ação poderá ser destrutiva, e a vida um dia fará o seu papel mostrando-nos à força que é preciso parar. E aqui a vida é implacável – ela sempre devolve a frequência que vibramos.

Precisamos assim de desenvolver um estado de atenção consciente da nossa vida, o que se chama de mindfulness, lembrar de quem somos em essência – seres humanos em interação, que sentem emoções. Trazermos Presença efetiva ao que estamos a viver na nossa vida, e não (sobre)viver apenas para sermos presença na vida dos outros. Será que temos a coragem e humildade de viver ou estaremos a ficar intolerantes a nós mesmos?

Quanto mais momentos de pausa, maior a mente se torna relaxada. Cada pausa é um campo imenso de Transformação, que nos permite Aceitar, Integrar e Acolher cada momento da nossa vida, e cada emoção/sentimento dentro do nosso corpo. E com isso a paz de sentir que se está a fazer coisa certa no momento e lugares certos, independente do resultado que isso nos traga. Fácil? Não. Tão difícil quanto belo, tal e qual o parto duma criança.

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