É preciso aceitar ir mais fundo na vida, não basta a superficialidade do saber das coisas.
Há uma frase que não sei bem quem é o autor que diz que a vida se expande ou se encolhe na proporção da nossa coragem. Quando ouvimos a palavra coragem remete-nos imediatamente para uma energia de ação, de resiliência e sempre associamos, cultural e inconscientemente a movimento ativo. Sucede que para que consigamos efetivar mudanças precisamos da coragem de saber parar, retirar do mundo exterior nem que seja por uns momentos e contemplar porque estamos com pressa. Normalmente a vida invade-nos com sinais sobre essa necessidade do corpo, e muitas vezes absorvidos no ruído da forma habitual de resolver as coisas perdemos o contacto com esta informação valiosa.
Precisamos mover-nos para o desconforto do nosso submundo antes que a vida o faça por nós. Precisamos fazer amizade com aquelas partes de nós que resistem a parar, que resistem a receber ajuda, para podermos transformar a verdade das emoções mais profundas e levar essa beleza para a nova fase do ciclo da vida. Este é um processo bastante desafiador e ao mesmo tempo um presente divino – aprender a desacelerar quando há ação a mais a acontecer.
O universo da nossa vida humana é giratório, onde existem estações e ciclos de mudança, fluxo e movimento, e entre eles é necessário saber-nos dar períodos de descanso propositados e úteis para que a evolução se faça com naturalidade e sem apertos nas curvas da vida. A vida puxa-nos por vezes em várias direções e é nesses momentos que precisamos ter a humildade de contemplar o momento para não cair na armadilha de responder rápido demais, na tentativa de resolver o nosso próprio desconforto e incerteza.
O nosso corpo ao longo das várias etapas da vida fica desgastado pela luta e nossa mente precisa duma nova perspetiva para que a vida continue a ser uma inspiração. Para isso, voltamos à coragem, mas não a de ação para fora, mas sim para dentro. Como digo muitas vezes a quem me procura, dizer não aos outros é dizer sim a nós, e, no contexto deste texto, é vital aprendermos a colocar a vida em espera para podermos dar abertura a este sim interno e olhar em verdade para o que o corpo e a intuição pedem.
Este processo não é de todo fácil, mas é uma jornada necessária a ser feita de forma voluntária, pois a vida sempre nos vence duma maneira ou doutra no que toca aos nossos compromissos de alma. Desta forma, um novo ritmo “aparentemente” lento apodera-se da estrutura do nosso corpo permitindo-nos curar velhas feridas e assimilar novas necessidades importantes para o nosso caminho ser o mais verdadeiro e integro possível.
Afinal de contas, sem escolhas conscientes a vida escolhe por nós – esta é a lei mais universal e transversal a todos. Que saibamos olhar, escutar e ouvir, em profundidade.