A arte dos relacionamentos.

É na partilha que damos sentido à nossa individualidade.

No meu último artigo falei sobre o impacto da individualidade e o quanto ela é muitas vezes condicionada pelas relações. Hoje, o tema é a importância dos relacionamentos para a individualidade e para evoluirmos enquanto sociedade.

Eu costumo dizer que as relações são o palco para o desenrolar da nossa capacidade de nos amarmos enquanto indivíduos, uma vez que o desenrolar dum relacionamento mostra-nos aspetos nossos que apenas se mostram nessa interação. Quantos de nós já não disse algo do género a alguém “tu trazes o pior de mim“. No seu mais básico nível, um relacionamento traz-nos muitos desafios porque esconde-se em nós uma profunda desconfiança dos outros que é movida por medos que apenas nos afastam da totalidade do que somos, do que sentimos.

Isto torna o mundo um local solitário porque, apesar do número de pessoas que nos cercam na maioria do tempo, nós raramente comunicamos uns com os outros em real profundidade e transparência. E nem connosco mesmos, e é por isso que é tão importante investir na qualidade das nossas relações, o que é o mesmo que dizer investir em nós mesmos para podermos estar nas relações que são as corretas para nós. Com “corretas” apenas quero dizer que são relações bondosas, de empatia, de cumplicidade, de parceria.

Importa compreender que o medo não reside num indivíduo – ele está na aura entre nós. Quando estamos sozinhos o medo não está lá, mas assim que uma pessoa entra no mesmo espaço que nós o medo está presente duma forma subtil. O medo de sentirmos tudo aquilo que se esconde dentro de nós, que abafamos da nossa infância, dum antigo relacionamento, dum acontecimento qualquer que nos fez fechar a confiança em nós mesmos perante o mundo, etc. Isto torna-nos desonestos sem nos apercebermos e depois tememos que os outros sejam desonestos connosco, o que leva de novo a um estado solitário mesmo dentro duma relação aparentemente estável. Enquanto mantivermos algo escondido de nós não conseguiremos sentir liberdade porque dependemos do que o outro nos vai fazer sentir ou no que queremos sentir na presença do outro.

Se não tivéssemos medo uns dos outros não haveria limites geográficos, políticos ou sociais – não existiam países, fronteiras ou guerras. O mundo que vemos hoje é um produto direto do nosso medo genético uns com os outros – com toda a sua beleza e o seu horror. Precisamos começar a olhar os nossos medos e sermos honestos verdadeiramente. Isto vai trazer-nos uma transparência vital que importa nutrir na relação mais duradoura que teremos – com nós mesmos. Só depois disso conseguiremos estar em qualquer relação da forma “certa”. Quando falo em ser transparente, quero dizer sermos abertos e honestos na nossa comunicação com os outros.

Um dos aspetos que sempre falo para o sucesso na nossa vida, seja individual ou numa interação, é o equilíbrio entre dar e receber. Este equilíbrio está entre espontaneidade e a liberdade e o saber colocar limites saudáveis. Este equilíbrio está também entre a capacidade de partilhar e a de saber ouvir. A qualidade dos relacionamentos depende disso. A qualidade dos relacionamentos não diz respeito ao quanto as pessoas nos fazem bem, mas sim ao quanto nós fazemos bem às pessoas com quem nos relacionamos, dentro deste equilíbrio e da transparência. Se nos esforçamos para agradar sempre a todos para nos ajustarmos a uma relação/situação, nós estamos a desagradar a nós mesmos, e um dia seremos “cobrados” por isso. Mas, quando estabelecemos relações com valores elevados e com sentido de auto-responsabilidade e honestidade, estamos a criar o melhor terreno para uma sociedade mais estável. Não valerá a pena tudo isto?

De que vale a nossa individualidade se ela não puder partilhada de forma honesta? Nós somos seres de interação, de partilha. Quantos dos nossos relacionamentos estão a florescer nestes princípios? Deixo a(s) pergunta(s).

  • Que valor dás às conexões humanas?
  • De que forma evitas os outros?
  • De que forma abres as portas às conexões?
  • Assumes a responsabilidade pelo que sentes?
  • Consegues equilibrar empatia e honestidade?
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