Humanidade na Despedida

Pela observação do que são os funerais típicos, pela minha própria experiência de já ter 3 mortes muito próximas para estar em paz, surge uma vontade de proporcionar um espaço seguro para uma Despedida com Dignidade do corpo físico, aquando do seu término de vida.

E, para isso, precisamos estar muito à vontade com o que significa o Desapego. Apesar de como a palavra soa, ser desapegado não significa que não se sente. De facto, se formos verdadeiramente desapegados, sentiremos muito mais intensamente que os outros porque não permitimos que a nossa expectativa, positiva ou negativa, contraia o evento que estivermos a experienciar.

O verdadeiro desapego não pode ser forçado através da disciplina. Qualquer tentativa de o forçar criará simplesmente mais apego. Desapego pressupõe um enorme amor e confiança na vida. É acerca de trabalhar com as expectativas em vez de sermos vítimas delas. Com isso, conseguimos confiar nos altos e baixos dos acontecimentos e aceitar o crescimento e o decair do nosso corpo e da nossa vida. Mesmo que não consigamos ver imediatamente o resultado ou propósito duma determinada situação, sabemos que está ligado a algo maior à frente no futuro.

E assim percebemos que se não largarmos rapidamente o que for para ser largado, as águas mentais e emocionais invadem a nossa mente trazendo-nos pelas correntes do arrependimento, ansiedade e autopiedade. O desapego representa o processo de separação entre as emoções e a mente. Desapego representa o processo de largar o controlo sobre a vida, fisicamente, mentalmente e emocionalmente.

Este “Workshop” é adaptado ao tipo de situação:

  • Grupo restrito para ressignificar a dor de entes partidos, e o respetivo posicionamento no sistema familiar
  • Despedida organizada pré-funeral
  • Outra situação que envolva o tema da morte.

Testemunho de quem já vivenciou esta atividade:

“A vida mostrou-me que eu carregava o fogo de uma raiva muito grande gerada pela minha incapacidade de enterrar as minhas filhas, e eu não estava consciente disso. A dor provocada pela raiva de não ter conseguido realizar o tipo de funeral e enterro a que a sociedade nos habituou, e a minha negação em viver essa experiência, levou-me depois de anos e anos de dor, a permitir-me viver a minha verdade. O trabalho com a Branca mostrou-me as minhas sombras, o que estava no meu inconsciente.

Eu não me identificava com os funerais não humanizados, frios e sem graça. Para mim o funeral tradicional das minhas filhas era algo impensável. Para mim, um funeral precisava de ser humanizado, teria flores, e poderia ter velas, mas seria na Natureza, com música e estariam todos vestidos de branco e não de preto. Um funeral deveria ser uma verdadeira celebração e partilha da dor profunda e simultaneamente do Amor também.

Enquanto também eu terapeuta, sei que partilhar a dor diminui o peso da própria dor. Para mim, os poucos meses de vida das minhas filhas tinham impactado apenas a minha vida, a do pai e talvez, talvez….dos avós e irmãos. Se um funeral é uma celebração da morte, como um lembrete do privilégio do que essa vida é e trouxe a cada dos que cá ficou, então só faria sentido celebrar com quem se escolheu partilhar a vida, na dor e no Amor. E foi exatamente isso que fizemos, já quase a acabar o Inverno de 2022 fizemos o funeral.

Convidámos os nossos três filhos vivos (idades: 22, 12 e 10 anos) e dois casais amigos… (surpreendentemente todos escolheram estar presentes!!!)… partilhámos TODOS a nossa dor e à medida que íamos falando e chorando, íamos TODOS também sentindo e vivendo o Amor.

No fim levantámo-nos do chão da sala de partilhas e fomos para o exterior, onde quase todos cavámos, aquela cova, que cada um teve a oportunidade de colocar o que tinha escolhido para simbolicamente enterrar algo físico e assim ressignificar a própria dor.

Nós não enterrámos as nossas bebés, nascidas já mortas, elas estão vivas nos nossos corações, enterrámos sim, a dor causada pela raiva de não termos tido a coragem e a oportunidade antes…

Hoje percebo que estávamos à tua espera… Branca!

E esse ressignificar da dor, que permite sentirmos cada vez mais o Amor, trouxe-me à consciência todas as mulheres e homens, que foram pais e não trouxeram os seus filhos para casa, independentemente se o aborto ou nado-morto foi provocado ou espontâneo, mas que efetivamente, fez quebrar essa ligação física parental.

Precisamos mesmo e com urgência de aprender a acolher a dor do outro ao invés de julgar os seus comportamentos, e esta certeza, faz-me questionar sobre a quantidade de casais, mulheres e homens a precisarem de parar, tal como nós cá em casa precisámos, e de terem um espaço e alguém que os ajude, como nós encontrámos em ti, para também fazerem um funeral diferente, uma cerimónia diferente, de serem acolhidos com amor, para serem capazes de também acolherem as suas dores e celebrarem a partida, a morte de seus filhos, como uma forma terapêutica: de por um lado, aprenderem a celebrar a morte; por outro encararem o ato de enterrarem as suas dores, como uma necessidade emocional de ressignificação da própria dor.

Fomos abençoados, por não termos sido postos à prova, perante o poder de escolher entre permitir ou não a vida delas. Porém temos consciência que muitos não têm a nossa sorte e escolheram, ou foram obrigados a escolher diferente.

Esses filhos precisam de ser reconhecidos, esses pais e mães ouvidos, e essas dores enterradas e ressignificadas para que se libertem e voem de volta à vida, com alegria, como tu nos ajudaste, facilitaste e permitiste.

Neste início de Primavera, depois de tantos anos e todo um processo com altos e baixos, sentimos que estamos mais unidos e mais fortes do que nunca, cada um de nós individualmente, nós enquanto casal, nós enquanto pais, nós enquanto família.

Reconhecemos que a dor profunda, nos impediu de fazermos e estarmos mais presentes e atentos ao facto de que termos a nossa família, e cuidarmos dela, não é a mesma coisa, como o que sentimos hoje, que é o facto de sentirmos que somos uma família e só por isso, adoramos cuidar e apoiarmo-nos uns aos outros.

Todos nós somos seres em construção. Todos nós temos o poder de escolhermos enfrentar os medos, as dores, mudarmos e se necessário, recomeçarmos.

A ti Branca, gratidão enorme, por teres aceite o desafio e seres a Xamã que tanto meu coração pediu ao universo, para celebrar a linda e maravilhosa cerimónia fúnebre, na Natureza, com flores, velas, música e vestidos de branco…

Em Amor,”

Nota – valor sob consulta, dependendo do número de participantes e do tipo de situação.

Valor: Sob consulta

Peça mais informações

OUTROS SERVIÇOS

Share This