A inviolável pureza do sentir.

O potencial de crescimento da honestidade e da verdade.

Sinto-me inspirada a escrever este artigo pelo meu próprio processo interno dos últimos dias, mas principalmente pelo sentimento que ficou ontem na última aula do módulo da água do curso de xamanismo integrativo.

Muitas vezes nisto de se ter auto-consciência e ser um observador dos processos emocionais leva-nos a lugares complexos nos quais temos que estar preparados. Não necessariamente para os (tentar) compreender, mas simplesmente saber que eles virão num ou noutro momento e quase sempre de forma inesperada e surpreendente. É, por isso, necessário que saibamos desenvolver uma dose simpática de humildade interna para que não tropecemos na obscuridade das nossas crenças ou dos nossos medos.

Precisamos aprender a equilibrar a nossa liberdade individual com a coletiva, uma vez que não nos cabe a nós julgar ou esperar que os outros se adaptem à nossa situação ou pensamento. Somos nós que temos que assumir a responsabilidade das escolhas que fazemos, sejam elas de novos pensamentos ou ideais – eles são para nosso desenvolvimento e não do outro. Muitas vezes, nesta observação, há uma tendência a querer curar tudo no imediato, sem sequer passar pelo movimento sentido do tema em questão. Ou seja, precisamos dar-nos a permissão de acolher primeiro o que quer que seja que nos gera desconforto para que, com tempo e integração, possamos expressar e sentir o que fazer. A ida imediata para uma “cura” é apenas uma outra forma (mascarada de consciência) para fugir do tema.

Há uns dias, num processo meu, e na posição de aluna ouvi uma frase duma americana que dizia “a resistência é um presente“, e naquele momento ouvia e aceitava o que ouvia mas sentia o meu corpo precisamente nessa resistência a julgar mentalmente a postura da pessoa em causa. Depois, sozinha, acolhi toda aquela resistência e “dor” que o meu corpo me mostrava e no dia seguinte insights diversos encaixaram internamente duma forma tão óbvia (e física) que não tive outra hipótese senão render-me à humildade da lição. De facto, a resistência é uma porta de abertura a novas descobertas.

E ontem, curiosamente após a energia do eclipse solar, e no fecho do módulo da água (emoções e honestidade), foi isto que testemunhei no grupo que se permitiu verdadeiramente acolher nas várias facetas de si mesmo, em respeito pelo ritmo interno e mecânica de cada um. Uma magia que me devolve sempre a satisfação do trabalho próximo da essência do ser humano.

Há um poema de Rumi que relata o que acabo de descrever e que deixo de seguida para reflexão individual, no processo e verdade de cada um. Que saibamos reconhecer o potencial de crescimento perante cada resistência e que a cada novo desafio que nos bate à porta, a cada manhã, tenhamos a humildade da sua contemplação em honestidade.

Casa de Hóspedes, por Jalaluddin Rumi

Isto de Ser Humano é como uma casa de hóspedes.
Todas as manhãs uma nova chegada.

Uma alegria, uma depressão, uma maldade,
alguma consciência momentânea chega
como um visitante inesperado.

Receba e entretenha a todos!
Mesmo que sejam uma multidão de tristezas,
que violentamente varrem a sua casa
esvaziam os móveis,
ainda assim, trate cada hóspede com honra.
Ele pode estar a libertá-lo
para algum novo prazer.

O pensamento sombrio, a vergonha, a malícia,
encontre-os à porta com um sorriso
e convide-os a entrar.

Seja grato por quem vier,
pois cada um foi enviado
como um mensageiro do além.

OUTROS ARTIGOS