Escrevo este artigo, neste primeiro dia do ano, a receber os primeiros raios de sol, no jardim dos elementos que em 2023 plantei, e ao som de araras e rolas.
Enquanto tomava o meu café dei por mim de olhos fechados a agradecer a vitamina D dos céus, a vida, a preciosidade de estar em paz e em silêncio comigo, e refletia para mim mesma “o que torna novo o ano se em verdade não houver uma atitude diferente?”
E entre devaneios e insights pessoais, esbarrei com um texto de Krishnamurti que reflete exatamente o meu sentir:
Pergunto-me o que queremos dizer com Ano Novo. É um ano totalmente novo, algo que nunca aconteceu antes?
Quando dizemos algo novo – embora saibamos que não há nada de novo debaixo do sol – quando falamos de um feliz Ano Novo, será que é realmente um Ano Novo para nós? Ou é o mesmo velho padrão repetido indefinidamente? Os mesmos velhos rituais, as mesmas velhas tradições, os mesmos velhos hábitos, uma continuidade do que temos feito, ainda estamos a fazer e faremos este ano.
Então, há alguma novidade? Existe algo realmente novo, algo que você nunca viu antes?
Esta é uma questão bastante importante, se você a seguir – transformar todos os dias da sua vida em algo que nunca viu antes. Isso significa um cérebro que se libertou do seu condicionamento, das suas características, das suas idiossincrasias, das opiniões, dos julgamentos e das convicções. Podemos deixar tudo isso de lado e realmente começar um novo ano? Seria maravilhoso se pudéssemos fazer isso.
Krishnamurti, Janeiro 1985
- Até onde nos deixamos levar pelas massas?
- Até onde nos permitimos ser diferentes?
- Será que é apenas um devaneio de alguns?
- Será que é assim tão difícil?
Questões importantes de contemplação individual, sem necessidade de buscar uma resposta concreta, mas sim apenas a observação do sentir no corpo quando nos colocamos ao serviço desta contemplação.
Todos somos diferentes, mas todos habitamos no mesmo cenário, independentemente das histórias pessoais. Vi o filme sobre a vida de Nelson Mandela várias vezes, e, colocando ideologias à parte, a questão que fica é sempre a mesma: cada um de nós carrega o potencial de mudança por um mundo melhor (na família, na sociedade, no trabalho, entre amigos), não precisamos ser grandes populistas, apenas Ser Únicos na expressão de quem somos, pelo respeito do outro.
Vivemos no mundo das polaridades, é um facto, mas sinto que a grande lição a tirar é saber resistir precisamente aos extremos. O caminho do meio, sem apegos a ideias ou conhecimento, mas livre na experiência do que melhor se ajusta para cada um é sem dúvida um percurso a ponderar experienciar.
Quando reconhecemos as nossas escolhas, aceitando-as e aceitando as reações dos outros e as suas escolhas, aí encontramos a verdadeira Liberdade de Ser, e tornamos o nosso ano, e cada dia, como sendo novo e fresco. As lutas só valem a pena quando elas estiverem em sintonia com um sentido interno livre não reativo.
Que neste Ano Novo possamos ser efetivamente novos para nós mesmos.