Tenho observado que teimamos ouvir mais “ruído” do que a própria vida ao nosso redor. Deixamo-nos levar pelo que a nossa mente barulhenta nos incute a cada pensamento descontrolado, não nos permitindo estar verdadeiramente inteiros a cada instante, o que consequentemente nos leva ao medo de perder algo – o tão conhecido e aclamado apego.
Duma forma até muito inconsciente e automática, a mente vive obcecada com o que não devia estar a acontecer, perante o que está mesmo a acontecer na nossa vida. Ela transporta-nos numa busca compulsiva duma espécie de erro, e nem nos damos conta… e acabamos por acreditar que nós mesmos estamos a ser um erro, ou que a experiência que estamos a ter é um drama.
A mente obcecada com o erro não vive! Ela observa e analisa constantemente se o que está a viver é ou não correto, temendo até por vezes a sua própria existência. Ao pensar que não devia estar a acontecer algo, a mente rotula que esse algo é incorreto, colocando-nos assim em contradição com a própria realidade dos factos, menosprezando as circunstâncias presentes e inevitavelmente gerando sofrimento em nós mesmos.
Daí que surge uma palavrinha simples mas duma importância vital em todo este emaranhado de pensamentos e factos. A aceitação de tudo o que É, em especial do ruído, pois ao contrário estamos sempre em conflito e à espera que termine a experiência que catalogamos como má, não nos permitindo vivê-la duma forma integral, passando a evitá-la.
Cada momento e cada circunstância que nos surge na nossa vida deve ser agradecido para que possa ser vivido totalmente, sem fugas, mas não pelas coordenadas ou pelo como esse momento se desenrola, mas apenas e só pela consciência desse mesmo instante.
Não há motivos, não há razões… há apenas experiência. E quando tivermos a humildade e a aceitação de vermos com estas lentes, teremos a oportunidade de nos sentirmos totalmente na circunstância que a vida nos coloca, sem medo que esse instante seja um ditador do futuro ou um fiscal do presente.
Quando nos permitimos sentir a nós mesmos estamos a ser honestos, e, quando somos honestos estamos a ser responsáveis por tudo o que sentimos – e isto transforma-se automaticamente em agradecimento genuíno da vida, a cada momento presente.
Elegemos o que queremos, mesmo até aquilo em que acreditamos para nós. Teimamos em ver as coisas a preto e branco, apenas no bom e no mau, quando na verdade existe uma banda bem mais larga da nossa frequência interna, e toda ela nos pertence. Não estamos apenas num extremo ou no outro…
A energia mais elevada nasce quando abrimos o coração ao que está a suceder na nossa vida, em cada momento.
Quando estamos perante situações menos agradáveis, e em especial quando essa situação nos coloca perante uma impotência de agir, resta-nos apenas tomar a consciência dessa experiência. Tomando-a como nossa, e colocando-nos ao serviço da entrega das emoções que ela nos faz sentir e jamais dos pensamentos encruzilhados que a pressa da fuga dessas emoções nos quer incutir.
Há uma frase dum filósofo dinamarquês que diz que “a vida não é um problema para se resolver, mas uma realidade para ser experienciada”, e esta é a verdade nua e crua para todo e qualquer acontecimento que nos surge – ousemos viver e não fugir da situação que nos chega, independentemente do tipo de emoção que nos faça sentir, boa ou menos boa, pois de qualquer forma essa emoção pertence-nos e precisa que a sintamos.
Assim, eu acredito que tudo o que nos chega tem a intenção de nos orientar para o nosso caminho, que não é nem melhor nem pior que outros, é simplesmente o nosso caminho, e é por ele que necessitamos caminhar, mesmo até como oportunidade de ter a coragem de chorar! Sim, porque aí seremos autênticos no nosso sorrir.